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Chronicles 📝
Personal Project
Personal Project
➕ These are some of the texts I write when I'm not writing ads. Just some random thoughts, a free ticket to my crazy brain 🧠. In Portuguese only, desculpa gringos 🇧🇷.
Pombos 🕊️
Tem vários sinais de que a vida tá foda. Pra mim o maior deles é ser afrontado por um pombo. Quando isso te acontecer, é melhor parar pra pensar.
Tenho para mim que o pombo sempre foi um democratizador de poder na sociedade. Aliás, não tivessem me contado que eles vieram só para os europeus se sentirem “mais na Europa” - o que até faz sentido com essa teoria - eu teria certeza que essa era a função deles. Alívios democratizadores de poder.
Explico. Pense bem: não importa o quanto a sociedade te chute, te maltrate, te diminua, existe um ser que vai te fazer sentir poderoso, nem que seja por um segundo. É uma ideia genial.
Você chuta o vento, grita como se ele te entendesse, o menospreza, mais ou menos o que fazem com você o dia inteiro, descontando suas frustrações em um bicho tão ridículo que esquecem que ele faz parte da categoria das aves, as mesmas que muitos dizem admirar por sua beleza e espírito livre. E sabe o que ele faz? Ele te respeita e voa (ou pelo menos tenta).
Até o dia em que não.
Ele te enfrenta. Ao invés de fugir, ele fica ali parado. Como quem diz: “tá me estranhando? Tá cheio de calçada aí, parceiro. Segue seu rumo.” Até o pombo, que vive dos seus restos, te desautoriza. E digo mais, ele só não te olha olho no olho porque é estrábico.
Quando esse dia chega, é sinal que a vida tá foda.
Eu não sei escrever.
Ainda bem 🤓
Ainda bem 🤓
Eu passei a vida inteira ouvindo que não sabia escrever. Que não sabia pontuar, e que não entendia as “regras gramaticais”. É porque na verdade eu nunca quis saber de nada disso. Se eu acho que aqui eu preciso de um ponto, então. Se, depois dessa virgula, na minha rebeldia de escritor “burro”, eu entender que preciso de outra vírgula, eu coloco uma vírgula.
Se a frase ficar confusa é problema do leitor. Eu entendi o que eu quis fazer ali: deixar o leitor confuso, colocar uma pausa que ele não precisava fazer antes de fazê-lo entrar em uma frase que vai ficar longa demais para ler até o fim sem fazer nenhuma pausa seja com vírgula ou ponto final
Vai ter gente que gosta. Meia dúzia que entende. E, se eu der sorte, alguém que gosta de mim o suficiente para dizer “Nossa, mas esse texto tá ótimo. Nem acredito que foi você que escreveu.”
O meu . é que tá cheio de escritores mestres na arte da gramática por aí e eu vou entender se eles não gostarem dos meus textos. Aliás, prefiro dizer que eles não vão gostar do meu estilo. Assim como eu, rebelde que sou, posso não gostar desse jeito todo certinho de escrever. Pelo menos não sempre.
Como diz o ditado, “tudo tem hora nessa vida”, até mesmo escrever certo. Claro que essa, talvez, seja a maior parte do tempo. Mesmo assim, tem hora.
Para não ficar como um maluco que não acredita na ordem intersubjetiva criada anteriormente, aliás muito anteriormente, a minha própria existência, eu admito que é bem mais fácil escrever errado depois que você sabe escrever “certo”.
Afinal, tem uma razão para as regras serem como são e o “sistema” (usando um termo para me sentir anarquista) passar grande parte da sua juventude te massacrando para você aprender a escrever bem corretamente.
Até por isso, escrever bem corretamente é fácil. Pelo menos para àqueles que passaram por um bom “sistema” (olha ele aí de novo) de educação, fato que não corresponde a realidade brasileira e até mesmo serve de argumento para muitos grandes escritores não-gramaticalmente-alfabetizados se identificarem com esse texto. Quero ver mesmo escrever bem, mesmo escrevendo tudo errado.
Religioso de avião 🛬
Se você não frequenta igrejas, não se sente confortável em assumir uma religião ou é dos que “não acredita em nada, mas sabe que existe alguma coisa tipo uma energia”, esse texto é pra você. Hipócrita.
Quando falo isso me incluo na categoria dos hipócritas, só não faço questão de revelar em qual delas especificamente me encaixo.
É que eu tenho uma teoria que só fica mais forte a cada viagem que eu faço: ninguém é religioso de verdade até entrar em um avião. Nem o Papa. Mas também ninguém sai de um avião verdadeiramente ateu. Nem Nietzsche.
Olhe para os dois lados antes de decolar. Parece frase de autoescola, mas deveria ser a primeira orientação das aero-moças-e-moços do avião.
Repare naquele homem que não sabe se o sinal da cruz começa para esquerda ou para direita. E aquela senhora que tenta disfarçar uma fézinha. Se der sorte é capaz de pegar um judeu rezando o Pai Nosso, ou um budista juntando as mãos.
Todo mundo dá uma rezadinha antes do voo sair do chão. Os que deixam pra rezar depois também rezam. Mas esses rezam pra não ter que rezar, pois a essa altura a coisa já vai estar feia.
Não sei se é o medo, se é “só porque não custa nada” (aliás, parênteses para a indignação, uma das poucas coisas que não custa nada nos aviões hoje em dia) ou se já que, segundo a igreja católica, vamos um pouco mais para perto do “criador” é bom tentar agradar. Quase que um, “licença posso entrar? É rapidinho tô só de passagem”. Afinal, ninguém entra na casa dos outros sem pedir permissão. Muito menos desafiando o dono da propriedade.
Na maioria dos casos, “graças a Deus” (outra frase curiosamente muito usada por pessoas não religiosas) o avião aterrissa e tudo fica bem. O que me leva a crer que ao longo dos anos tem dado certo. Por isso, continuem com a hipocrisia. Neste caso, especificamente, não está fazendo mal a ninguém.
Canhoto, eu sempre quis ser
canhoto 🫲
canhoto 🫲
Nunca consegui entender qual é o problema das pessoas com o nosso lado esquerdo do corpo. Acordar com o pé esquerdo dá azar. Dar a mão esquerda é coisa de gente traiçoeira. Já ouvi dizer que se assinar com a mão esquerda não vale. Se for verdade, espero que tenham aberto uma exceção para os canhotos, senão tem muito contrato por aí dando sopa pra advogado pilantra. Até ser de esquerda hoje (talvez não seja de hoje) dá briga na família, dependendo, é claro, da sua família.
A verdade é que eu, do contra que sou e sempre serei, queria muito ser canhoto. Apesar da minha total falta de coordenação, tento, sempre que posso, fazer as coisas com a mão esquerda. Pode ser o simples gesto de beber água, escovar os dentes ou digitar a senha do meu cartão. Pode ser algo importante como assinar um contrato que eu não queria.
Não sei exatamente dizer porque gostaria de ser canhoto. Um ato de rebeldia contra esse sistema “destrista” que a sociedade impõe, uma cultura criada para privilegiar pessoas e fazê-las vencer na queda de braço todos os canhotos. Ou se é só uma insatisfação pessoal sem explicação, como muitas outras.
Para tentar defender meu ponto digitei no Google, só usando a mão esquerda, em busca de mais informações. Acabei não encontrando muita coisa, o que me faz pensar, com o lado esquerdo do cérebro já que sou destro, que minha frustração talvez seja mesmo sem nenhum fundamento.
No meio de um monte de nada encontrei, na BBC, uma matéria que dizia que os canhotos podem “ter as duas metades do cérebro – os hemisférios esquerdo e direito – melhor conectadas e mais coordenadas nas regiões envolvidas na linguagem”.
Achei - incrível como você realmente encontra tudo no Google menos suas meias - minha justificativa para qualquer próxima discussão sobre o tema. Quando eu disser que queria ser canhoto e alguém me perguntar por que, vou responder: “não sei, mas se eu fosse meu hemisfério esquerdo e direito seriam mais conectados e, provavelmente, me ajudariam a elaborar uma resposta convincente.”
E, até mesmo, talvez, um texto mais interessante.
Na esquina 🪧